quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Não é conselho... é colaboração!


Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de vinho do Porto, dizer a minha neta:

- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas pra te contar.

E assim, dizer apontando o indicador para o alto:

- O nome disso não é conselho, isso se chama colaboração! Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis, a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte. Por isso, vou colocar mais ou menos assim:

É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.

Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão. Mas lembre-se: isso não significa que você não possa e não deva ser ponderada. Saber recuar não é sinônimo de fraqueza. É sabedoria.


Planejar é preciso, mas adversidades serão sempre inevitáveis. O importante é ter foco, saber onde se quer chegar, sem esquecer de que às vezes será preciso parar para ajudar o companheiro ao lado. Em algum momento ele retribuirá o carinho, naturalmente.

Seja caridosa, não seja tola.

Faça orações, mas não apenas quando estiver aperriada. Mesmo que não saiba exatamente com quem está falando, agradeça. Não somente pelas grandes conquistas, mas por cada pequena coisa do seu dia que a deixa feliz. São elas que mantém acesa a sua vontade de viver.

Satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação.

Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.

Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim. Crie um animal de estimação. Aproveite sua casa, mas vá a Angra dos Reis, Salvador, João Pessoa... Também conheça outros países.

Cuide bem dos seus dentes. Não dê tanta atenção aos problemas, caso contrário eles se tornam maiores do que realmente são. Mas veja bem... Isso não significa que você deva engavetá-los, obstáculos existem para serem superados.

Experimente, mude, corte os cabelos. Repique!


Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o garçom ou aquele taxista que te pegou no aeroporto. Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito...". Tenha uma vida rica de vida. Vai que o carinha ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é imprevisível.

Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.

Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.

E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque, sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.

Se for casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.

A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco! Para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.


Declare-se! Não tenha medo de dizer que ama.

Leia, pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim. Cante no chuveiro. Não tenha vergonha de ser feliz, mas também não saia alardeando sua felicidade aos quatro cantos. Coisas do coração só cabem a ele, a ninguém mais.

Livre-se dos 'pré-conceitos'. Eles só servem para engessar, para não nos deixar enxergar o que, de fato, é essencial nos outros. Tente não julgar as pessoas, mas saiba que em algum momento da vida você será julgada.

Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão. Existe muito mais deles em você do que sua razão pode supor.

Cultive os amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor. Compreenda que nem toda amizade verdadeira dura para sempre, mas, sim, o tempo suficiente para provocar mudanças em sua vida.

Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza. E mágoa só faz mal para quem sente.

Era só isso minha querida. Agora é a sua vez.

Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: Como vai você?


Adaptação do texto "Da minha precoce nostalgia", de Maria Sanz Martins.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A arte soberana


A vida caminha agonizante e quando tropeçamos em alguma pedra tal qual aquela do poeta, no meio do caminho, é que os ponteiros, os malditos ponteiros do relógio, parecem acelerar. Mais uma vez... Lei da Relatividade puríssima! (Sim, eu tenho problemas com ela!)

E não adianta querer correr atrás do tempo perdido. Ele nunca será recuperado. Só nos resta erguer a cabeça e seguir em frente para que possamos fazer das horas seguintes, e pontuais, tempos frutíferos. Por que o tempo não desacelera, muito menos dá uma pausa para que possamos sacudir a poeira, cuidar das topadas, arranhões e feridas. O tempo não fica em standby para que tomemos nossas decisões e coloquemos cada coisa em seu devido lugar, para que possamos amainar nosso espírito.

A vida é isso... um imenso ensaio a céu aberto, repleto de elementos surpresas. Cabe a nós saber quando o drama já não comove e a comédia já não alegra. Cabe a nós a certeza de que o final será sempre uma incógnita, e que em muitos e muitos momentos vamos, sim, precisar improvisar, ter jogo de cintura, aprender a tirar coelhos da cartola, andar em pernas de pau ou na corda bamba, cuspir fogo e fazer malabarismos.

E mais do que isso, cabe a nós o entendimento de que a saída de cena não é uma escolha nossa e talvez seja exatamente a única escolha que, de fato, não nos caiba. É assim que a vida é. Feita de tempos: tempos perdidos, tempos frutíferos e tempos derradeiros. Todos com sua beleza, seus contratempos e suas lições fazem da vida, singular em cada experiência, a maior de todas as artes!