segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Por que eu também entendo...

eu não entendo o invisível. e a tecnologia dos corpos soltos no ar. não entendo a falta das coisas que conectam e ligam. não entendo a falta dos cabos. dos fios. das tomadas e gambiarras. entendo as plantas. entendo as raízes. entendo o chão também. entendo a gravidade. entendo o abraço da terra nas estruturas radiculares. em outras palavras entendo também. entendo que o dedo na tomada dá choque. entendo o que é USB. RF. AV. entendo as palavras que não dizem nada pra isso. não entendo gente. que pode andar. pode sentar. mas pode sair também. gente que não abraça. gente que não dá a mão e não solta. que não segura na hora do aperto. que não aperta na hora da decolagem. da cena certa do filme. que não aperta quando quer falar e não pode. não entendo só uma mão solta no mundo. sem dedos na tomada para sentir o choque. não entendo o que não vejo. não acredito em fantasma. não entendo o wi-fi. as ondas eletromagnéticas. o espectro invisível da luz. o espectro invisível no seu quarto. os espectros que rondam o mundo. não concordo. não entendo gente. não entendo telefone sem fio. nem gosto muito. gosto de gente. gosto de ligar. não entendo não ligar como não entendo desligar assim. eu entendo de fios e de cabos e de ligações e de ciranda. entendo de brincadeira de criança mesmo brincando sozinho. eu entendo lego. eu não entendo o pé no chão quando o pé destoca o frio. eu gosto de pé na lama. do abraço da lama. da lama entre os dedinhos. o som e a sensação de ter raiz por um segundo. eu gosto de pôr a mão em sacos de sementes. feijões. favas. arroz. eu entendo as sementes querendo estar sozinhas dentro da terra. com os pés na lama. com a lama entre seus dedinhos. eu entendo as plantas e as coisas que ligam. eu entendo as raízes e os cabos. eu entendo o tronco. eu entendo o galho. eu entendo as folhas. eu entendo o que é subir ao céu pelo seu punhado de luz. eu entendo o que é levantar a cabeça. não faço. entendo.

Por Raphael (Ai! Minha Santa Aquerupita!)

sábado, 28 de novembro de 2009

Anseios

Quero a lua cheia
Quero o sol de meio-dia
Quero a tempestade
Quero o maremoto
Quero a ventania

Quero o intenso
Quero o profundo
Quero agir duas vezes
antes de pensar
Quem muito pensa
arrisca menos
e menos ganha também

Quero tudo
Quero todo
Quero arder
Quero gelar
Quero voar

Quero tocar um coração
Senti-lo quente
Senti-lo vivo
Senti-lo pulsante
Sangrando de amor
Amor...
Quem te chama de Pleno
Não conhece o teu sobrenome
Contradição

Carol Madureira

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Florbela Espanca

"O meu mundo não é como o dos outros. Quero demais, exijo demais. Há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada. Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... Sei lá de quê!"

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Eita Modernidade!

Cadê as flores?
O romantismo está sendo
l...e...n...t...a...m...e...n...t...e
enforcado pela modernidade.

Quanto mais conforto,
comodismo.
Quanto mais comodismo,
solidão.
Solidão...
Ironia?!
Absolutamente!
Aumenta a verticalização,
cresce la soledad.
Algo matemático:
diretamente proporcional.

Era da internet, globalização,
teias de informação, o mundo conectado...
...e nos sentimos c-a-d-a vez mais sós.
Todo o virtual que aproxima idéias,
congela o calor humano,
distancia corações.

No meio do caminho tinha uma pedra...?
Talvez estejamos nos tornando a própria.
Imóvel. Inerte.
Em seu canto bem acomodada,
atravancando futuros,
esmagando sementes.
E por falar em sementes...
...onde estão os frutos?

Carol Madureira

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Morangos Mofados

Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ilha

Manhã de sol
Olhos fechados

O corpo frio
E um coração ilhado
Queimado
Esfomeado
Desesperado


No horizonte
Uma miragem
Olhos encharcados
E um fio de esperança
Criança

Que dança
Lembrança...

Gaivota canta
Canção misteriosa
Ouvidos atentos
E uma certeza
Clareza
Beleza
Tristeza


Solidão é chaga aberta
Rima de saudade
Consumida por recordações,
Folhas secas de outono
Que vagam à toa, à toa...

Lembranças tatuadas na alma
De tudo o que se foi
E do que se sonhava ser
Recordações de tudo o que se viveu
E do que nem chegou a existir

Manhã de sol
Olhos abertos

O corpo quente
E uma realidade revelada
Clareza
Que dança
Desesperada


Carol Madureira

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Para a amiga Ila, com carinho...

ASSIM ÉS TU

Assim és tu
Alguém que sente como eu sinto
Que ri do que em mim é extravagante
E sem qualquer hipocrisia
Amansa o meu instinto
Acrescenta-me uma consoante
E se lança comigo à ventania

Colhe em sua pequena mão
O que em mim existe de incerteza
E mesmo não me negando os sonhos
Resgata-me de toda ilusão
Que danifique minha clareza
E me lance aos meus demônios

Assim és tu
Uma terça-feira de carnaval
Uma idéia genial
A saudade que não se sacia
O meu reflexo na bacia

Como o último verso ficou uma porcaria
Penso que chegou a hora deste poema terminar
Antes que te provoque uma crise de neurastenia
E minha biografia eu venha a aniquilar

Desejo-te as melhores surpresas
E tudo o que em ti já se faz tão presente
Saúde, paz, amor, muita firmeza
Um céu de oportunidades e
Um sol sempre nascente


Carol Madureira

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Não sei o quê

É um não sei o quê
Que me bota leve
Que me bota sã
Que me bota louca
Que me bota em paz

Saio a voar pela cidade
E já nem lembro a sensação
De sentir o toque do asfalto
E a angústia dos que dele não se libertam
Se antes pássaro enjaulado
Hoje a amplidão

O previsível assegurava segurança,
Mas dentro do peito,
um arauto sufocado
declara a revolução:
- Chega de mansidão!
Do morno estou cansado
E antes que padeça em meu leito
É no fogo que encontrarei minha bonança

E ao fogo ele se entrega
Porque a verdadeira essência
O tempo sempre vem revelar
E o fogo suas chamas não nega
O arauto alado queima
Até o seu desejo saciar.


É um não sei o quê
Que me bota leve
Que me bota sã
Que me bota louca
Que me bota em paz


Carol Madureira