quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mensagem para 2010 e sempre...

FILTRO SOLAR

Por Pedro Bial

Nunca deixem de usar filtro solar! Se eu pudesse dar uma só dica sobre o futuro,seria esta: use filtro solar.Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência; já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês:

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado. Mas, pode crer, daqui a vinte anos, você vai evocar as suas fotos e perceber de um jeito - que você nem desconfia hoje em dia quantas tantas alternativas se lhe escancaravam à sua frente, e como você realmente tava com tudo em cima. Você não é tão gordo(a) quanto pensa!

Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade de sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada e te pegam no ponto fraco às quatro da tarde de uma terça-feira modorrenta. Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.


Cante! Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano. Use fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo. Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine.

Guarde as antigas cartas de amor. Jogue fora os extratos bancários velhos. Estique-se! Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois, o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.

Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos. Você vai sentir falta deles. Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer, não se auto-congratule demais, nem seja severo demais com você. As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo. É assim pra todo mundo.

Desfrute de seu corpo. Use-o de toda maneira que puder. Mesmo. Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir. Dance! Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto. Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois. Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.

Dedique-se a conhecer os seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro. Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons. Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem.

More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer. Viaje! Aceite certas verdades inescapáveis: Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear. Você, também, vai envelhecer. E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem, os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes e as crianças respeitavam os mais velhos.


Respeite os mais velhos e não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada. Talvez case com um bom partido. Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar. Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos quarenta vai aparentar oitenta e cinco.

Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas no filtro solar, acredite!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Direto do Túnel do Tempo

Esse poema é das antigas... escrevi em 2004 depois de assistir o filme Caminho para Kandahara, sobre a situação das mulheres na cultura afegã. Esse é pra elas... O filme é de 2001 e tem lá os seus problemas. Eduardo Valente afirmou na época: "É um filme urgente, é um filme importante. Não é um filme bom". Mas ainda acho que vale a pena assistir, sim, e tirar as próprias conclusões.

KANDAHARA

Hoje procurei encontrar-me,
Esforço vão.
Perdi minha visão para tuas retinas
Meus passos para tuas pernas
Meu tato para tua pele
Meu sangue para tuas veias...
Como posso seguir agora?
Roubaste minha identidade,
Minhas ilusões...
Pensei que amar fosse simples,
...parecia tão simples...
Enganei-me profundamente!
Enxergar, não sei mais.
Caminhar,
Sentir,
Sonhar...
Tudo se perdeu em ti.
Olho-me no espelho
E o que vejo?
Nada! Apenas minha vida...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Aos meus anjos...


"Façamos da interrupção um caminho novo. Da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro!" (Fernando Sabino)

Em menos de um ano já sofrera três desilusões. E não se arrependia disso, não mais. As desilusões só acontecem na vida de quem se permite tentar, de quem se arrisca, dá a cara a tapa, entrega o coração, não desiste do ser humano. A cada desilusão, uma vontade de chutar o pau da barraca, de entregar os pontos, de devolver na mesma moeda. Ela não consegue, não conseguirá nunca, porque não faz parte da sua natureza. Ela é assim mesmo. Vive no limite da intensidade, sempre com um machucado aparente, uma ferida aberta que ela faz questão de mostrar, de deixar curar ao vento, ao tempo, a tempo. Mas está cercada de anjos, que a levantam a cada queda, que seguram sua mão com força e não a largam. Se preciso, até a carregam no colo para longe de qualquer sofrimento e depois a põem de volta no caminho certo. São eles que a consolam, que sentem a dor dela, e junto com ela afogam as mágoas em um copo de Red Label ou Ice, tanto faz... É neles que ela confia, pois eles não precisam compreendê-la, não precisam de grandes explicações, não a reprimem, não a julgam, apenas ouvem e aconselham. Eles a resgatam, a perdoam, dançam com ela e a fazem enxergar o mundo com novos olhos. Não olhos de quem sofreu desilusões, mas olhos de quem tem um mundo de oportunidades pela frente. Olhos de quem tem histórias pra contar e conta. Conta mesmo... porque a vida só tem graça assim, se pudermos gargalhar das fuças dela e compartilhar as risadas com outras pessoas, pessoas que realmente importam, nossos anjos. 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Despertador

Tinha medo de dormir e ficar vulnerável mais uma vez ao pesadelo que há poucos minutos lhe arrancara violentamente dos braços de Morfeu. Resistia bravamente, os olhos assustados, atentos a qualquer sombra desenhada na penumbra do seu quarto. Ficou assim por horas, não sabia exatamente se eram mesmo horas ou apenas alguns minutos sujeitos à Lei da Relatividade. “Maldita Lei da Relatividade”, pensava ela. Só sabia que o tempo se arrastava na contramão dos seus pensamentos, das suas lembranças, da sua organização excessiva. Permaneceu inerte, os olhos arregalados, até que sem perceber seu corpo começou a desacelerar, as retinas fatigadas se precipitaram em esquecer as sombras, as pálpebras pesadas aos poucos foram se ajuntando, se ajuntando, se ajuntando... até que, enfim, encontraram-se, muito naturalmente. Não se sabe ao certo se o pesadelo voltou a assombrá-la. Provavelmente não. O sono parecia muito tranqüilo, mas antes mesmo de ser saciado, o despertador berrava a chegada de um novo dia... repleto de obrigações mornas. Mais uma vez ela era violentamente arrancada dos braços de Morfeu. Abriu os olhos tão vagarosamente quanto fechou poucas horas atrás e pensou novamente, desta vez em alto e bom som: Maldita Lei da Relatividade!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mantra (Porque, enfim, estou encontrando o meu tempo...)

Tudo neste mundo tem seu tempo;
e há tempo para todo propósito debaixo dos céus.

Há um tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir.

Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las;
tempo de abraçar e tempo de afastar.

Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar.

Há tempo de amar e tempo de odiar;
tempo de guerra e tempo de paz.


Eclesiastes 3, 1-8

Insônia

Sinto sono, mas não durmo. É à noite que todo tipo de lembrança aparece e me desperta, me espeta, me machuca. Minha cabeça dói, tomo uma neosaldina, duas. Não resolve. Será que um copo de vinho vai fazer mal? Não sei... bebo. Um copo, dois, três... perco as contas. Deito. Sinto sono, mas não durmo. As lembranças insistem, elas são teimosas. Também sou teimosa, mas odeio teimosia. Também não sou muito chegada num orgulho. Não sou orgulhosa. Talvez devesse ser, mas não sou. As lembranças estão mais coloridas. Deve ter sido o vinho. Viu? Não fez mal. Dizem que ajuda a relaxar. Mentiram. Mentiram mais uma vez - Ou será que eu é que me deixo enganar? - Sinto sono, mas não durmo. Levanto. Janelas piscam no computador. Outras pessoas que também sentem sono, mas não dormem. Não quero conversar, quero dormir. Começo a escrever, talvez o sono chegue. Quero mais vinho. Cadê? Acabou. A dor de cabeça passou. Foram as neosaldinas ou o vinho? Não sei. Só sei que passou. Bom sinal. Vou deitar mais uma vez. Talvez as lembranças também passem. Talvez também não tenham mentido pra mim, não dessa vez.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sem razão

Qual a razão do que não se pode mensurar?
Do que se sente, mas não se toca
Do que se crê, mas não se vê
Do que se espera, mas não se procura
Onde está a razão?

Quem pode dizer que minha intensidade é falha?
Que meus exageros são caprichos
Que meus erros são imperdoáveis
Que meu medo é insensatez
Que minha segurança é frágil
E minhas inseguranças,
meras fragilidades...

Atiraste a primeira pedra?
Quando? Onde?
Escreveste o final?
Em que ofício?


Cadê a razão?


Carol Madureira